terça-feira, 7 de setembro de 2010

Brasil-sil-sil‼!



Hoje é dia 7 setembro de 2010, dia da independência do Brasil.


Ontem se completaram 24 anos da morte do meu pai, desde então eu o Brasil, ambos amados por meu pai, mudamos muito.


De fato, sou uma pessoa que gosta de guardar lembranças e, de fato, não gosto de saudosismos.


Ontem navegando no mundo virtual da internet, me vi virtualmente inserido dentro de uma convergência no espaço tempo. Instantaneamente na madrugada de seis para sete de setembro, estava eu olhando para o passado e o presente ao mesmo tempo.


Nas minhas buscas na internet encontrei uns vídeos de um programa, que me parece já extinto, do ano de 2007. Kakin Big Dog e Cumpadi Bráulio, são dois caipiras matutos que debocham do nosso cotidiano em um cenário que lembra uma velha vendinha do interior.


Conheci o Kakin quinze anos atrás, um primo de um grande amigo trouxe de Belo Horizonte uma fita k-7 demo do humorista que fazia muito sucesso. O mundo ainda não estava na velocidade das informações imediatas mas, instantaneamente comecei a rir das músicas bestas daquela fita. O sotaque carregado e a voz do humorista davam um tempero especial, uma autenticidade às letras.


Bem, o tempo não é linear, nem eu o serei neste texto. Vamos ao ano de 2007, lá estão os dois humoristas, tipificados como caipiras que riem e debocham do nosso cotidiano, com piadas simples e inteligentíssimas falam do nosso Brasil atual, temas como gerundismo, inglês, aeroportos, enchentes, o brasileiro, este é o mundo caricaturado por eles. É mais que engraçado olhar para aquela cena, de um tempo que as pessoas observavam a vida. Realmente como o caipira que ficava na venda, como o menino que ficava na rua, os dois ficam ali observando a vida, observando com inteligência e senso crítico, não na passividade da preguiça.


Hoje é dia da independência do Brasil, um país totalmente diferente de quando eu nasci e de quando meu pai morreu. Eu nasci em plena ditadura, no ano de 1977, meu pai morreu no início da retomada da democracia em 1986. Quando ele morreu, um dia antes daquele sete de setembro, era um homem que sonhava com um novo Brasil eu, sou testemunha deste novo Brasil.


São muito distintos, o Brasil sonhado por meu pai e o Brasil do qual sou testemunha. Hoje falamos e falamos de prosperidade, sucesso, vitória, carreira milhões, carros importados, etc. No tempo do meu pai falava-se de ser livre, de sermos orgulhosamente brasileiros. Não há nada de errado com a riqueza, o que não podemos de esquecer nunca é de onde viemos.


Este é o novo Brasil, do presidente operário que meu pai admirava, um país de perfumes caros, de muitas faculdades particulares, milionários instantâneos, onde falta mão-de-obra para serviços menos qualificados, tenho a sensação de que falta pouco tempo, para que como as americanas, nossas donas de casa comecem a contratar empregadas estrangeiras. Este é o novo Brasil, uma economia nova e emergente, que se orgulha do seu petróleo, das sandálias que antes calçavam os pés dos pobres e hoje circulam no mundo vip.


Outro dia, numa aula da faculdade, o professor disse que ainda não somos uma economia madura como a da Europa. Também pudera, não somos nem mesmo um povo maduro. Somos um povo adolescente, em plena puberdade, dando vazão a todos os desejos hormonais. Temos a arrogância típica da adolescência de pensar que sabemos tudo, que podemos tudo. Somos os adolescentes que quando crianças não vivemos as dificuldades dos pais e não sabemos dar valor ao que temos.


Não sofremos o horror de guerras em nosso território, nem de invasões, nem terremotos, nunca uma grande tragédia se abateu sobre este país. No entanto, países maduros, como os europeus e asiáticos, sofreram, superaram e aprenderam com grandes tragédias durante sua história.


É ótimo ser o Brasil que somos hoje, gosto de poder ter meu celular, meu notebook, meus perfumes favoritos, minha bicicleta, gostei da festa de casamento da minha irmã, gosto e amo os amigos que tenho, as facilidades de se encontrar. Gosto da minha moderna faculdade, da cidade onde vivo (apesar de querer não querer ser enterrado aqui), gosto da igreja que frequento, sou sinceramente grato a Deus pela minha vida. Mas, não quero nunca me esquecer dos dias em que minha mãe servia rins de boi com legumes no almoço, não quero nunca deixar de me lembrar do aroma do sabor deliciosos da sopa de fubá com ovo cozido do jantar.


Hoje na nossa vida de adolescente pagamos caro por uma porção de jiló (blerrrgh!) no mesmo bairro onde meu pai e seus amigos, no seu happy-hour, tomavam cerveja e comiam queijo parmesão servido sobre papel de pão.


Gosto do Brasil atual sim, mas que não nos faltem os caipiras filósofos para nos lembrar sempre de quão bestas podemos ser.

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